quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Uso de tecnologia na educação

MEC e secretarias anunciam a compra de milhares de tablets; tecnologia na escola é importante, mas discurso da inovação “a qualquer preço” precisa ser visto com cautela Após assumir o Ministério da Educação, Aloizio Mercadante – que saiu do Ministério de Ciência e Tecnologia – deu ênfase em vários de seus discursos ao uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) na Educação como alternativa para tornar a escola “interessante”. Uma de suas primeiras ações como ministro foi anunciar a compra de 600 mil tablets a serem distribuídos a professores de ensino médio, com o que se gastará cerca de R$ 180 milhões. “O arranjo social da escola e o quadro negro são do século 18, os professores, do século 20 e os alunos, do século 21. A reflexão internacional demonstra que o computador na escola deve começar pelo professor”, disse Mercadante, em entrevista ao jornal Estado de São Paulo. A medida parece ter desencadeado uma corrida por tecnologia nos estados. Em São Paulo, na última semana, o secretário estadual de eduação Herman Voorwald anunciou um investimento de R$ 5, 5 bilhões para, entre outros, compras de lousas digitais e tablets por meio de parceria público privada. Também em fevereiro, o Estado do Pernambuco divulgou a informação de que distribuiria 170 mil tablets a estudantes de 2º e 3º ano do ensino médio, resultado de uma licitação que custou R$ 170 milhões (mil reais por aparelho). O Brasil está atrasado? As secretarias e ministérios deveriam eleger outras prioridades? (Nos dois estados citados, os respectivos sindicatos de trabalhadores em educação denunciam, por exemplo, problemas estruturais como falta de professores). Para os pesquisadores entrevistados pelo Observatório, é necessário que haja investimento em tecnologia, porém, junto com investimento em políticas pedagógicas. Inovador não é sinônimo de qualidade “Vivemos numa era em que inovador virou qualidade, passa a ser banalizado. Só de ser tecnologia já faz da coisa algo legal. Acho que não: a introdução tem que obedecer condições, tem que ser feita respeitando processos da escola, da comunidade, das reais necessidades”, discute Michelle Prazeres, pesquisadora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, em que estuda mídias e tecnologias na educação paulista. Michelle, apesar de defensora da tecnologia, vê a introdução apressada às escolas com cautela. Para ela, uma introdução pura e simples não adiantaria nada, mas se bem aplicada, a tecnologia poderia melhorar a qualidade da educação: fator mais importante da discussão, que justificaria a implementação das TICs. “Não adianta fazer o discurso da modernização de que está se promovendo a tecnologia se não se trabalha com projetos que modifiquem de fato a realidade da escola”. As vidas humanas são cada vez mais informatizadas, e as escolas e as secretarias estaduais e municipais não são. As atribuições de classe, ao menos para o Estado de São Paulo, ainda são analógicas, tornando o processo lento e tortuoso. O espaço da tecnologia nas escolas são os laboratórios de informática, os computadores com internet da sala dos diretores, e não as salas de aula (informações da Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação no Brasil : TIC Educação, de 2010, feito pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil). Segundo essa mesma pesquisa, 100% das escolas (urbanas) possuem pelo menos 1 computador, 93% têm internet (sendo 87% com banda larga), e 81% das escolas pesquisadas possuem laboratórios de informática. Muitas vezes as escolas não sabem o que fazer com os artefatos de tecnologia e até proibem que alunos utilizem smartphones e celulares nos ambientes educativos, reprova Luciano Meira, professor de Psicologia da Universidade Federal de Pernambuco, responsável pela criação das Olimpíadas de Jogos Digitais e Educação (OJE), um projeto especial da Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco. É uma rede social onde participa toda a comunidade escolar, e é rica em jogos (cujo substrato e desafios são matérias dadas em sala de aula). O desenvolvimento da OJE inspirou a criação da empresa Joy Street , de desenvolvimento e criação de jogos conversacionais. Professores Entusiasta da ferramenta, o professor Luciano diz que essa rede social não existe para alterar os contatos sociais, mas pra criar mais espaços de diálogo, mais interação entre alunos e professores. E o professor que não quiser participar ajuda os alunos precisa apenas dominar seu conteúdo acadêmico: “Muitos professores não vão entrar na cultura digital, e eles vão ser úteis também: podem continuar contribuindo se construirmos ambiente de aprendizagem onde a curiosidade do aluno seja acolhida pelo professor”. Um exemplo dado por Luciano é um jogo de biologia em que os alunos têm que atacar vírus dentro de um corpo humano. O professor de biologia ajudará os alunos nos desafios por saber explicar essa matéria – leia a entrevista completa aqui. Para Luciano, a tecnologia não deve ficar “confinada” nos laboratórios de informática, em que fazem exercícios desinteressantes aos alunos. Uma sala de aula com todos conectados em alguma rede social, diz o professor, permitira uma troca mais rica: “O que aconteceria é que o que antigamente chamávamos de conversa paralela, apareceria na linha de tempo de todo mundo. Começaria a aparecer pra todos e não só para um grupo restrito”. Isso porque a aula tradicional, que dá mais voz ao professor, não potencializa quanto seria possível a voz do aluno e a troca. Michelle considera a OJE um bom exemplo de uma implementação de tecnologia. Porém a regra, diz, é os processos serem atropelados, com a mídia e a sociedade se seduzirem pelo discurso da inovação em si, e acabarem culpabilizando os professores, que estariam "freiando" a modernização da escola - sendo que são eles e elas o principal fator da boa educação. É um problema cair no discurso da "tecnologia de qualquer jeito", a qualquer preço, diz. Um bom programa de inclusão tecnológica da escola, acredita, pode ser feita de forma fantástica em desktops, e uma simples compra de tablets de última geração podem ter um impacto mínimo, dependendo da forma como for aplicado. Prioridade de investimento A discussão sobre o financiamento que ganhou espaço no ano passado com o Plano Nacional de Educação fez a sociedade atentar-se a uma questão: faltam recursos para a educação. Apesar de tudo ser prioritário para investimento, inclusive a tecnologia, o professor Rubens Camargo acredita que o principal gasto tem que ser para pagamento de professores. Rubens é professor da Faculdade de Educação da USP e foi Conselheiro do Conselho de Acompanhamento e Controle Social do Fundef do Município de S. Paulo. “Os salários dos professores no Brasil de norte a sul são irrisórios. Dá vergonha. É uma situação que só pode ter alternativa se colocada como prioridade. Para isso tem que ter muito mais recursos”. Depois de atendida essa prioridade de recursos, diz, viriam todas as outras. A tecnologia faz parte de um ambiente com condições adequadas de trabalho. Assim como uma biblioteca, são recursos físicos e materiais para as equipes montarem adequadamente seus projetos pedagógicos. “Tem que ser tudo ao mesmo tempo. As carências no Brasil são de todas as naturezas em termos sociais, e a principal é carência é a da condição docente e os funcionários das escolas”. Fonte: http://www.observatoriodaeducacao.org.br

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, aumentou em 22,22% o piso nacional dos professores

O Ministério da Educação (MEC) definiu em R$ 1.451 o valor do piso nacional do magistério para 2012, um aumento de 22,22% em relação a 2011. Conforme determina a lei que criou o piso, o reajuste foi calculado com base no crescimento do valor mínimo por aluno do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) no mesmo período. A Lei do Piso determina que nenhum professor pode receber menos do que o valor determinado por uma jornada de 40 horas semanais. Questionada na Justiça por governadores, a legislação foi confirmada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no ano passado. Entes federados argumentam que não têm recursos para pagar o valor estipulado pela lei. O dispositivo prevê que a União complemente o pagamento nesses casos, mas, desde 2008, nenhum estado ou município recebeu os recursos porque, segundo o MEC, não conseguiu comprovar a falta de verbas para esse fim. Em 2011, o piso foi R$ 1.187 e, em 2010, R$ 1.024. Em 2009, primeiro ano da vigência da lei, o piso era de R$ 950. Alguns governos estaduais e municipais criticam o critério de reajuste e defendem que o valor deveria ser corrigido pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), como ocorre com outras carreiras. Na Câmara dos Deputados, tramita um projeto de lei que pretende alterar o parâmetro de correção do piso para a variação da inflação. A proposta não prosperou no Senado, mas na Câmara recebeu parecer positivo da Comissão de Finanças e Tributação. A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) prepara uma paralisação nacional dos professores para os dias 14, 15 e 16 de março com o objetivo de cobrar o cumprimento da Lei do Piso. A aplicação do piso é obrigatória para estados e municípios de acordo com a Lei Federal nº 11.738, de 16 de junho de 2008. Estados e municípios podem alegar não ter verba para o pagamento deste valor e, com isso, acessar recursos federais para complementar a folha de pagamento. No entanto, desde 2008, nenhum estado ou município recebeu os recursos porque, segundo o MEC, não conseguiu comprovar a falta de verbas para esse fim. O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, em recente entrevista, anunciou que discute o pagamento de bônus para as escolas que alfabetizarem todos os alunos até 8 anos. Essa seria sua prioridade na pasta, para diminuir a evasão escolar. Agência Brasil